quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Tubarões em aquários

Os tubarões e as raias despertam a curiosidade das pessoas há muito tempo, seja pela imagem que era passada dos tubarões, um enorme peixe devorador de carne ou pelas raias, com o corpo achatado e sensação de parecerem "voar" pela água. Por esses e outros motivos, eles normalmente são destaque nos aquários públicos de todo o mundo e grande ambição para aquaristas dispostos a montar a estrutura necessária para mantê-los em suas casas.
Tubarões São conhecidas um pouco mais de 400 espécies de tubarões, que estão distribuídas em todos os oceanos do mundo. Junto com as raias e quimeras, pertencem à classe dos Chondrichthyes (peixes cartilaginosos). Quanto ao habitat, quase todos são marinhos, as exceções são algumas espécies de raias que habitam a bacia amazônica e o tubarão cabeça-chata (Carcharhinus leucas), espécie marinha que tem o costume de entrar em rios, já tendo sido observado a centenas de quilômetros adentro do rio Amazonas e acontecendo a mesma coisa em outros rios da Ásia e África. Surgidos há cerca de 400 milhões de anos, estes animais estão muito bem adaptados ao modo em que vivem, localizando-se no topo da cadeia alimentar, o que os deixa numa posição de destaque entre os animais marinhos.

Quanto à reprodução, os tubarões possuem sexos separados, onde os clásperes abrem a cloaca da fêmea e depositam o esperma dentro desta. Uma curiosidade é que as fêmeas de algumas espécies podem expelir sêmen que não foi utilizado ou guardar este sêmen para ser fecundado futuramente. Existem espécies ovíparas onde a fêmea deposita os ovos no substrato e espécies vivíparas, onde os embriões se desenvolvem no "útero" da fêmea. Entre os vivíparos existem diferentes estratégias de desenvolvimento da cria, de nutrição por vitelo até o canibalismo intra-uterino (ovofagia) onde os embriões devoram ovos fertilizados liberados pela mãe e outros filhotes menores. Nenhuma espécie possui estágio larval, nascendo indivíduos que são cópias idênticas dos pais e prontos para a caça, o que aumenta muito a taxa de sobrevivência.

Ligado ao sucesso adaptativo destes animais existe um desenvolvido sistema sensorial. Sua visão, ao contrário do que era pensado, tem uma boa capacidade inclusive à noite, pois possuem estruturas refletoras de luz localizadas atrás da retina. O olfato, muito bem desenvolvido, capta estímulos químicos na água. Estudos mostram que chegam a captar uma molécula de sangue em um milhão de moléculas de água. As ampolas de Lorenzini detectam estímulos elétricos na água através de pequenos poros situados na região ventral da cabeça. Internamente, a cada poro existe um tubo com uma substância gelatinosa que liga a uma câmara eletro-receptora. Com isso, os tubarões conseguem sentir as mínimas cargas elétricas produzidas pelos animais, mesmo se entocados em fendas ou enterrados no sedimento. A linha lateral é formada por poros que recebem vibrações da água, como se fosse um tato à distância. O sistema respiratório tambem é diferenciado. Possuem de 5 a 7 fendas branquiais (as espécies mais recentes apresentam 5 fendas) que ficam localizadas à frente das nadadeiras peitorais. Como não conseguem bombear a água para as brânquias como os peixes ósseos, a grande maioria das espécies precisa se manter em movimento para forçar a passagem de água pela boca e fendas branquiais. No sistema excretor possuem rins mesonéfricos, tendo a uréia como produto final do metabolismo. A pele é coberta por dentículos dérmicos, que se assemelham muito a pequenos dentes voltados para trás, o que torna a pele bastante resistente e hidrodinâmica.

O Aquário O aquário para abrigar tubarões e raias necessita de algumas características que são exclusivas para estes animais. Os tubarões precisam de espaço suficiente para que possam se movimentar com bastante folga. Por causa disso, o tamanho do tanque se torna o primeiro e um dos maiores desafios para manter espécies de raias e tubarões em aquários. O comportamento e as necessidades variam muito de espécie para espécie. Com isso, certamente vários dos temas terão necessidades especificas diferentes para cada espécie. Um exemplo bem comum para se encontrar respostas seria a necessidade do tamanho de um tanque para um Tubarão Galha Preta (Charcharhinus limbatus) e um Tubarão Lixa (Ginglymostoma cirratum). Duas espécies que atingem normalmente tamanhos próximos ou superiores a três metros quando adultos, mas possuem comportamentos natatórios e outras necessidades bastante diferentes. A primeira espécie precisa de um espaço físico muito maior em relação à segunda para o seu desenvolvimento e bem estar, por ter um hábito natatório ininterrupto em toda a linha da água e ter um metabolismo mais acelerado. A segunda espécie, apesar de ser também grande, tem o costume de ficar parada no fundo e em tocas por maiores períodos, se movimentando menos, e por isso não tendo as mesmas exigências quanto a espaço. No espaço inclui-se também a altura do aquário, que deve ser superior ao comprimento do animal, principalmente para aqueles que estão sempre nadando.

Rochas podem se tornar um obstáculo perigoso, machucando e até matando espécies de tubarões que habitam a coluna da água, como no caso do Tubarão Leopardo (Triakis semifasciata), Galha Preta (Charcharhinus limbatus) e Raia Leopardo (Aetobatus narinari). Essas espécies passam o dia todo nadando e como característica dos peixes cartilaginosos só conseguem nadar para frente (com algumas exceções), correndo um grande risco de ralar a cabeça nas rochas e até ficarem presos em buracos nas rochas e morrerem. Por esses motivos, pode ser necessário à colocação das rochas e toda filtragem biológica fora do display onde estão os animais.
O substrato não pode ser muito fino, pois é normal que os animais mais "estabanados", principalmente na hora da alimentação, acabem revirando o fundo do aquário, podendo causar a suspensão do substrato. Para esse fim, a halimeda se torna ideal.
Parâmetros da água
A quantidade de oxigênio dissolvido (OD) na água deve ser grande. Com isso o potencial de oxido-redução (ORP) também. O OD perto da saturação (9,2 mg/l a 20°C) e o ORP entre 350 e 420 mV. Com isso, consegue-se uma boa oxidação e nitrificação no aquário, diminuindo a possibilidade de se encontrar nitrogênio em forma de amônia (NH3) e nitrito (NO2) que são altamente tóxicos a peixes.

Um outro parâmetro que chama a atenção em um tanque para tubarões é o Nitrato (NO3). Foi descrito pelo biólogo Manoel Matheus Gonzalez (fundador do Núcleo de pesquisas e estudos de condricties -NUPEC) a ocorrência de calosidades na região ventral do tubarão Leopardo (Triakis semifasciata) devido à presença de nitrato (NO3) na água do tanque. No ano de 2003, em uma conversa, o veterinário Ricardo Yuji Sado relatou a formação de calosidades também na região ventral em espécimes de tubarões lixa (Ginglymostoma cirratum) em um aquário público aqui da região. No mesmo tanque habitavam raias e outras espécies de tubarões que não desenvolveram as calosidades. Ricardo não soube informar se havia a presença de nitrato na água e quais seriam os índices. Com isso não é possível saber ao certo se essas calosidades ocorrem em todas as espécies de tubarões, mas é uma coisa que não deverá demorar a ser descoberta. Para conseguirmos manter uma boa qualidade de água é indispensável o uso de eficientes skimmers, já que este aparelho consegue ajudar a saturar o O2, aumenta o ORP, retira grande quantidade de matéria orgânica que passaria para compostos nitrogenados e é item necessário para o uso de ozonizadores.

Circulação

A movimentação da água deve ser constante e bem distribuída pelo tanque, sem jatos fortes concentrados (comum nos aquários de corais). Deve-se evitar ao máximo o acúmulo e formação de bolhas e micro bolhas na linha da água. Estas bolhas, se engolidas pelos animais, causam embolia gasosa pelo acúmulo de ar no estômago e em outros órgãos internos. Deve-se evitar o uso de bombas internas e outros equipamentos elétricos dentro do aquário. A presença de pequenas correntes elétricas na água pode ser sentida pelos tubarões, desorientando-os, causando estresse e outros problemas.

Temperatura

O metabolismo destes animais está diretamente ligado à temperatura da água. As espécies necessitam que a temperatura da água seja similar à de seus locais de origem. Então, espécies recifais seriam em torno de 24 a 26°C e espécies de águas um pouco mais frias como o Tubarão Leopardo com temperatura de 20 a 22°C. A maioria das espécies que se encontram à venda estão nessas duas escalas de temperatura

Iluminação

Os tubarões e raias não têm exigências anormais quanto à iluminação, mas existem espécies de hábitos bentônicos e ou noturnos como no caso do Banded Shark (Chiloscyllium punctatum), onde se torna mais vantajoso usar uma iluminação pouco intensa.

Alimentação

A alimentação é à base de frutos do mar, filés de peixe, camarões e lulas. Sempre oferecidas diretamente a cada animal, conseguindo assim, alimentar todos os tubarões igualmente. Como a dieta desses animais é muito rica em proteínas, a presença de nitrogênio na água é mais preocupante do que nos aquários para outros peixes, sendo esse mais um motivo para a alimentação direta de cada animal.

Conclusão

Tubarões têm necessidades especiais quanto aos parâmetros fisico-químicos e biológicos do aquário ou tanque. Precisando de muito espaço para o seu pleno desenvolvimento em cativeiro. Havendo indisponibilidade de montar uma estrutura necessária para o animal, o melhor é não faze-lo.

Um comentário:

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