O Jornal "O Estado de São Paulo" mostrou dados em que a produção de pescado mundial foi de 34,1 milhões de toneladas em 1996, sendo que no Brasil, a produção foi de 60.000 toneladas, onde a criação de tilápia, carpa e bagre foi responsável por 85% e o camarão marinho e moluscos por 15% desse total. Desde então, a piscicultura vem crescendo a cada ano em relação à pesca extrativa, a qual está em declínio nos dias de hoje. É fato que a piscicultura está destacando-se como uma das atividades agropecuárias mais promissoras da atualidade, principalmente se houver um acompanhamento técnico sério e organizado.
Com o crescimento da piscicultura, é importante destacar as diferenças entre as populações selvagens das cultivadas, devido às condições próprias que cada uma apresenta. O tipo e regime de alimentação, o método de criação, a densidade populacional que atinge muitas vezes cargas de dezenas de kg/m³, a degradação da qualidade da água, o estresse crônico que sempre está associado às explorações intensivas, são fatores, entre outros, que fazem com que haja surtos epizoóticos provocados por fatores ambientais (físicos e químicos) e biológicos (bactérias, fungos, vírus e parasitas). Qualquer surto de doença em um plantel é causa de importantes perdas econômicas para o produtor, e estes estão cada vez mais preocupados com este risco.
Desse modo, embora o confinamento animal seja a solução para aumentar a produção animal, também é um meio de colocar a saúde dos animais em perigo se não houverem os cuidados de manejo adequados para a criação.
O tanque de piscicultura deve mostrar equilíbrio entre as espécies cultivadas (no caso de policultivos), a densidade populacional, os microorganismos existentes na água e a qualidade física e química da água.
A seguir serão destacados os principais fatores ambientais que devem ser levados em consideração para a manutenção de uma criação de peixes sadia.
Características Físicas da Água: São constituídas pela temperatura, material em suspensão, radiações e todas as agressões resultantes da prática do manejo nos animais e sua atividade entre si.
a) Temperatura: Os peixes são animais pecilotérmicos e conseqüentemente são menos adaptáveis à temperatura do que os mamíferos.
Assim, a temperatura torna-se um fator essencial em um viveiro de peixes, pois o metabolismo do animal irá variar conforme a temperatura do ambiente. Todas as atividades fisiológicas do peixe, como alimentação, digestão, respiração, excreção e até mesmo o crescimento serão influenciadas por esse fator. Sabe-se que existe um aumento de atividade metabólica dos peixes à medida que existe aumento na temperatura do ambiente.
Por isso, peixes tropicais como o pacu, matrinxã, piauçu e tambaqui, apresentam sintomas de hiporexia e até mesmo anorexia e diminuição de crescimento nas épocas mais frias do ano, se estão fora da região de seu habitat natural. Além disso, tornam-se muito mais suscetíveis às doenças infecciosas e parasitárias, pois ficam imunodeprimidos devido à diminuição de seu metabolismo. Logicamente, temperaturas muito altas também podem causar danos e até mesmo mortalidade nos animais.
A temperatura da água tem efeitos sobre a toxicidade de contaminantes e medicamentos lançados na água, e pode influir no desenvolvimento de populações de microorganismos. Além disso, interfere na solubilidade do oxigênio na água. Assim maiores níveis de oxigênio são encontrados em águas mais frias, e uma menor oxigenação em águas mais quentes.
b) Turbidez: A turbidez da água está relacionada com a quantidade de material em suspensão. Este material é constituído de partículas finamente divididas, que podem ser tanto orgânicas como inorgânicas. A urina e as fezes dos animais, assim como excesso de ração em decomposição ou de adubos orgânicos no tanque são fontes de material em suspensão.
Essas partículas podem provocar irritação branquial, o que pode levar a infecções bacterianas locais e depois sistêmicas. Além disso, o excesso de material em suspensão diminui a luminosidade do ambiente, prejudicando as atividades de fotossíntese. Isso traz diminuição dos níveis de oxigênio, além de um aumento na temperatura da água pelo incremento da absorção calórica.
c) Luz: A luz participa na produtividade primária do tanque, influenciando também nos hábitos de alimentação do peixe.
Este fator é estreitamente relacionado com a transparência da água, onde medindo-se esta, obtém-se informações a respeito da penetração da luz nesse ambiente. O ideal é que a transparência situe-se entre 15 a 30 cm, onde haverá uma produção biológica ideal no viveiro de peixes.
Os acidentes provocados por este fator geralmente são falhas tecnológicas; sendo assim, os peixes do viveiro não têm como escapar àquela situação desfavorável.
d) Manejo: O tanque de piscicultura deve ser o mais adequado possível para a espécie que nele será criada, pois o animal é retirado de seu ambiente natural para viver em um ambiente artificial criado pelo homem.
Assim, condições de grandes concentrações de indivíduos propiciam o aparecimento de lesões na superfície dos animais, sendo decorrentes de choques mecânicos entre si e até mesmo canibalismo, servindo como porta de entrada para infecções secundárias de protozoários, bactérias e vírus.
Certas manipulações nos animais, como captura, contenção, seleção, transporte, realização de banhos terapêuticos e retirada manual de ovas e sêmem para fecundação artificial, podem provocar lesões externas ou até mesmo rupturas de órgãos internos e hemorragias peritoniais. O manuseio do animal nessas atividades retira o muco protetor de sua superfície, deixando-o mais suscetível à agressão de agentes externos.
As doenças nutricionais também são fatores relacionados ao manejo da criação, onde a qualidade da ração é indispensável para um bom desempenho do plantel. A carência de vitaminas, aminoácidos, minerais e outros elementos propicia o aparecimento de deformidades, diminuição do crescimento e do ganho de peso e desuniformidade da criação, acarretando prejuízos para o produtor.
Características Químicas da Água: Englobam as propriedades e a composição da água, como o potencial hidrogeniônico (pH), conteúdo de gases dissolvidos, materiais nitrogenados, toxinas liberadas por algas, contaminantes em geral (cloretos, sulfatos, mercúrio, ácidos, pesticidas, clorofenóis, detergentes, etc).
a) Potencial Hidrogeniônico (pH): A exigência do pH está relacionada com a espécie de peixe que está sendo criada e as condições ambientais em que esta se encontra.
Quando as condições de pH não são favoráveis à espécie cultivada ou existem muitas oscilações neste fator, os animais correm o risco de sofrerem irritações dérmicas, hemorragias, hipersecreção de muco, patologias branquiais e até mesmo morte. Essas modificações também levam os peixes ao estresse, deixando-os suscetíveis a outras doenças.
b) Oxigênio Dissolvido: Em um ambiente aquático, o oxigênio pode penetrar na água através do ar ou ser produzido pelas algas através da atividade de fotossíntese. Esta última é a principal fonte de oxigênio da criação.
Cada espécie tem sua exigência em relação aos níveis de oxigênio dissolvido na água, sendo seu rendimento afetado diretamente por este fator. Por exemplo, as trutas exigem uma saturação ideal acima de 7 mg/l, não suportando valores menores de 5,5 mg/l. Em compensação, as carpas são pouco exigentes a esse respeito, tolerando níveis abaixo de 2 mg/l por grandes períodos de tempo. De um modo geral, não é recomendável manter os peixes em locais onde as taxas de oxigênio sejam menores que 70% de saturação. Em uma criação, a oferta e a demanda de oxigênio estão diretamente relacionadas com a quantidade e a vazão de água da propriedade.
A falta de oxigênio na água traduz-se em sintomas de asfixia, com os animais subindo constantemente à superfície da água para otimizar suas trocas gasosas, além da diminuição do desempenho do plantel (diminuição ou parada do crescimento e de ganho de peso, aumento nas taxas de conversão alimentar, estresse e maior suscetibilidade perante os patógenos).
c) Poluição: É caracterizada pela alteração das condições físicas, químicas e biológicas da água, através da contaminação pelos esgotos domésticos e resíduos industriais lançados nas águas. A poluição constitui um sério risco para a Saúde Pública, além dos danos prejudiciais à fauna e flora existentes.
Na piscicultura, a maior preocupação são os resíduos de agrotóxicos lançados displicentemente nos cursos d’água, podendo assim contaminar toda a área que estes irriguem. Além disso, deve-se tomar todo o cuidado na realização de um tratamento medicamentoso em um viveiro, certificando-se que o medicamento esteja inativado ao descartar a água que o conteve para não haver danos aos organismos aquáticos da natureza ou de quem dela se servir.
O uso de resíduos orgânicos (esterco de suínos, ruminantes, etc) para adubação ou mesmo alimentação dos peixes constitui um grande perigo para a Saúde Pública, pois é necessário que o peixe tenha uma alimentação saudável e com condições sanitárias adequadas para poder servir de alimento para o homem.
Em tanques onde não há uma boa renovação da água ou há sua reutilização nos tanques, os peixes correm o risco de sofrerem intoxicação por amônia, proveniente de suas próprias excretas e fezes. Peixes intoxicados por amônia apresentam taquicardia, taquipnéia e aumento da micção, podendo ir a óbito em poucas horas.
A grande importância dos fatores ambientais e de manejo sempre estará estritamente relacionada com o desempenho do plantel e a qualidade da produção, pois havendo água de boa procedência, criando-se a espécie adequada para cada região e adotando-se os procedimentos sanitários corretos, a piscicultura desponta como uma fonte de proteínas de excelente qualidade para o País, além de tornar-se lucro certo para o produtor.
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