terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A dose certa

Quantas vezes você já viu o piscicultor comprar a ração baseado no seu nível protéico e, pior do que isso, acreditando muitas vezes que "quanto mais proteína tiver melhor"? Apesar de ser um comportamento comum no mercado, esta forma de "alimentar" os peixes está longe de atender as necessidades nutricionais. Algumas espécies, como a truta, o salmão e o catfish – amplamente estudadas –, são muito sensíveis e dependem de uma dieta balanceada. Pacu, tambaqui, matrinxã, dourado e pintado, dentre outras espécies nativas da fauna brasileira, são peixes com potencial de expansão e que pouco se sabe sobre suas necessidades nutricionais.

Embora a proteína deva estar presente na dieta dos peixes, o criador precisa entender que outros nutrientes (sais minerais, vitaminas e lipídios) são igualmente limitantes no desenvolvimento dos animais aquáticos. No caso das proteínas, a dosagem adequada permite o balanço de aminoácidos no organismo dos peixes – um beneficio a saúde do animal e um ponto a favor do equilíbrio ecológico. O alerta é da nutricionista Silvia Cristina Pastore, da Agribrands do Brasil. "Os peixes, assim como outros animais, quebram enzimaticamente a proteína ingerida liberando os aminoácidos que vão para a corrente sanguínea e são usados para formação de seus tecidos, enzimas e hormônios. Nem sempre grande quantidade de proteína na ração representa peixes bem nutridos".

Exigências nutricionais - Alguns aminoácidos são sintetizados pelo próprio animal (aminoácidos não essenciais) e outros não são ou tem sua síntese numa velocidade menor do que a necessária para que o peixe atinja máxima performance (aminoácidos essenciais). Como a síntese de aminoácidos demanda gasto de energia, o ideal é fornecer um alimento que atenda tanto o requerimento de aminoácidos dispensáveis como os indispensáveis. Lembrando que os dez mais importantes são arginina, isoleucina, leucina, histidina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, valina e triptofano.

"O aproveitamento do alimento e a taxa de crescimento serão melhores quanto melhor for a qualidade da ração. Para isso ela deve ter um bom balanço energia-proteína, conter os aminoácidos necessários a níveis adequados e ter boa digestibilidade", explica Silvia Pastore. E quando se fala em digestibilidade, isso significa aproveitar melhor o simplificado sistema digestivo dos peixes, com um alimento contendo matérias-primas adequadas para seu desenvolvimento.

As matérias-primas de origem vegetal ou animal usadas na fabricação de ração comercial possuem proteína variando entre 5 e 10% no caso de farinha de trigo até 80 a 90% para farinha de sangue. Assim como varia o teor de proteína bruta, também varia o teor de aminoácidos que compõem cada uma destas matérias-primas. No entanto, estas variações não são lineares, ou seja, um ingrediente mais rico em proteína não é obrigatoriamente mais rico em todos os aminoácidos essenciais.

Silvia exemplifica, supondo que uma tilápia seja alimentada por uma mistura preparada pelo próprio tratador. Nesta mistura foram utilizados dois ingredientes: milho e farelo de soja – com nível de proteína final de 28%. Suponha que, além disso, o tratador fez uma suplementação com vitaminas e minerais.

Embora o nível de proteína fosse adequado para a fase de crescimento daquele peixe, esta mesma taxa não será máxima. Isso ocorre porque, embora o farelo de soja seja um ingrediente muito rico em proteína e alguns aminoácidos, ele é pobre em metionina e portanto, a falta deste aminoácido limitará seu desenvolvimento, facilitando a presença de doenças.

Balanço nutricional - Desde que seja bem processada, a farinha de peixe é o melhor ingrediente para ser usado em uma ração e por uma razão simples: possui uma composição de aminoácidos muito próxima à necessidade nutricional dos peixes. "No entanto, este é um ingrediente escasso, com tendência de ficar mais difícil de ser encontrado, tornando-se caro, o que inviabiliza o seu uso em grandes quantidades", lembra Silvia. Como alternativa para a farinha de peixe, a nutricionista sugere farelo de soja, soja integral desativada, glúten de milho, farinha de sangue, farinha de carne e farinha de vísceras. "Estes ingredientes misturados com outros que são fontes de energia, minerais e vitaminas irão compor a dieta final". Com um detalhe: na formulação de rações comerciais para peixes, o objetivo é a melhor combinação de ingredientes para atender as necessidades de aminoácidos de cada espécie e não simplesmente sua exigência de proteína.

Para seu processamento, Silvia Pastore recomenda observar dois pontos: as exigências de aminoácidos do peixe que se vai alimentar e o valor nutricional de cada ingrediente a ser utilizado na ração – neste caso, não só o nível protéico mas também a composição de aminoácidos. "Existem vários trabalhos científicos realizados nesta área e muitos deles se encontram resumidos no NRC (1993)". Os dados publicados no NRC devem, no entanto, ser usados com critério já que alguns resultados foram obtidos usando dietas purificadas e não podem ser aplicados diretamente a dietas comerciais. Motivo: são poucas as informações que o mercado possui sobre os peixes nativos sendo comum adaptá-las com aqueles dados obtidos com tilápia. Nesta área, mais do que nunca, é preciso larga experiência prática e disciplinada observação no campo.

Assim como avançaram os estudos sobre a nutrição de suínos e aves ao ponto de determinar a necessidade de aminoácidos para cada fase de produção e fala-se na relação de aminoácido ideal em rações de baixo teor de proteína, esperam-se avanços na nutrição de organismos aquáticos – o que implica dietas melhor balanceadas e com teores de proteína menores do que aqueles utilizados hoje.

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